segunda-feira, 6 de setembro de 2010
sábado, 4 de setembro de 2010
Pequeno comentário sobre o processo Casa Pia
Saiu a sentença da 1ª instância no Processo Casa Pia. Há culpados. Há vítimas de abusos sexuais continuados (crianças que agora se tornaram adultos). Ainda não vi o Sr. presidente da República nem o Sr. Primeiro Ministro pronunciarem-se sobre este assunto.
Também o Sr. Mário Soares e o Sr. Manuel Alegre devem um pedido de desculpa às vítimas pelas declarações proferidas antes e durante o Processo Casa Pia.
Depois de condenado, o Sr. Carlos Cruz insiste em dizer que que foi montado um esquema contra ele e que a Justiça não funciona. Se a Justiça funcionasse este ser humano miserável morreria atrás das grades pelas atrocidades (comprovadas em tribunal), que cometeu contra crianças indefesas.
Está provado que houve interferência e pressão política durante o julgamento.
Só em Portugal. Só mesmo em Portugal. Eu gostava que, pelo menos as crianças, fossem tratadas com dignidade e não como aquele Carlos Cruz as tratou publicamente depois de ter sido condenado justamente.
Só faltava os abusados passarem por ser os maus da fita e os Juízes serem chamados de incompetentes e corruptos. É que, neste caso, as vítimas não têm nem dinheiro nem poder. Foi assim que alguma boa gente se salvou deste processo e anda por aí em liberdade...
Também o Sr. Mário Soares e o Sr. Manuel Alegre devem um pedido de desculpa às vítimas pelas declarações proferidas antes e durante o Processo Casa Pia.
Depois de condenado, o Sr. Carlos Cruz insiste em dizer que que foi montado um esquema contra ele e que a Justiça não funciona. Se a Justiça funcionasse este ser humano miserável morreria atrás das grades pelas atrocidades (comprovadas em tribunal), que cometeu contra crianças indefesas.
Está provado que houve interferência e pressão política durante o julgamento.
Só em Portugal. Só mesmo em Portugal. Eu gostava que, pelo menos as crianças, fossem tratadas com dignidade e não como aquele Carlos Cruz as tratou publicamente depois de ter sido condenado justamente.
Só faltava os abusados passarem por ser os maus da fita e os Juízes serem chamados de incompetentes e corruptos. É que, neste caso, as vítimas não têm nem dinheiro nem poder. Foi assim que alguma boa gente se salvou deste processo e anda por aí em liberdade...
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Sabedoria I, III
Que dizes, viajante, de estações, países?
Colheste ao menos tédio, já que está maduro,
Tu, que vejo a fumar charutos infelizes,
Projectando uma sombra absurda contra o muro?
Também o olhar está morto desde as aventuras,
Tens sempre a mesma cara e teu luto é igual:
Como através dos mastros se vislumbra a lua,
Como o antigo mar sob o mais jovem sol,
Ou como um cemitério de túmulos recentes.
Mas fala-nos, vá lá, de histórias pressentidas,
Dessas desilusões choradas plas correntes,
Dos nojos como insípidos recém-nascidos.
Fala da luz de gás, das mulheres, do infinito
Horror do mal, do feio em todos os caminhos
E fala-nos do Amor e também da Política
Com o sangue desonrado em mãos sujas de tinta.
E sobretudo não te esqueças de ti mesmo,
Arrastando a fraqueza e a simplicidade
Em lugares onde há lutas e amores, a esmo,
De maneira tão triste e louca, na verdade!
Foi já bem castigada essa inocência grave?
Que achas? É duro o homem; e a mulher? E os choros,
Quem os bebeu? E que alma capaz de os contar
Consola isso a que podes chamar tuas dores?
Ah, os outros, ah, tu! Crendo em vãos lisonjeios,
Tu que sonhavas (e era também demasiado)
Com uma qualquer morte suave e ligeira!
Ah, tu, que espécie de anjo sempre amedrontado!
Mas que intenções, que planos? Terás energia
Ou o choro destemperou esse teu coração?
A julgar pela casca, é uma árvore macia
E os teus ares não parecem de vencedor, não.
Tão desastrado ainda! e com a agravante inútil
De seres cada vez mais um sonolento idílico
A fitar pla janela o céu sempre tão estúpido
Sob o astuto olhar do diabo do meio-dia.
Sempre o mesmo na tua extrema decadência!
Ah! — Mas no teu lugar, e assumindo as culpas,
Um ser sensato quer impor outra cadência
Com o risco de alarmar um pouco os transeuntes.
Não terás, vasculhando os recantos da alma,
Um vício pra mostrar, qual sabre à luz do dia,
Algum vício risonho, descarado, que arda
E vibre, dardejante, sob o céu carmim?
Um ou mais? Se os tiveres, será melhor! E parte
Prà guerra e briga a torto e a direito, sem
Escolher ninguém e enverga a indolente máscara
Do ódio insaciado, mas farto também...
Não devemos ser tansos neste alegre mundo
Onde a felicidade não é saborosa
Se nela não vibrar algo perverso, imundo,
E quem não quer ser tanso tem de ser maldoso.
— Sabedoria humana, eu ligo a outras coisas
E, de entre esse passado de que descrevias
O tédio, em conselhos ainda mais penosos,
Só consigo lembrar-me, hoje, do mal que fiz.
Em todos os estranhos passos desta vida,
Dos lugares e dos tempos, ou também dos meus
«Azares», de mim, dos outros, da estrada seguida,
Sempre retive apenas a graça de Deus.
Se me sinto punido, é porque o devo ser.
O homem e a mulher não estão aqui em vão.
Mas espero que um dia possa conhecer
O perdão e a paz que aguardam os cristãos.
É bom não sermos tansos neste mundo efémero,
Mas pra que o não sejamos na eternidade,
O que é mais necessário que reine e governe
Nunca é a maldade, mas sim a bondade.
Paul Verlaine, in "Sabedoria"
Colheste ao menos tédio, já que está maduro,
Tu, que vejo a fumar charutos infelizes,
Projectando uma sombra absurda contra o muro?
Também o olhar está morto desde as aventuras,
Tens sempre a mesma cara e teu luto é igual:
Como através dos mastros se vislumbra a lua,
Como o antigo mar sob o mais jovem sol,
Ou como um cemitério de túmulos recentes.
Mas fala-nos, vá lá, de histórias pressentidas,
Dessas desilusões choradas plas correntes,
Dos nojos como insípidos recém-nascidos.
Fala da luz de gás, das mulheres, do infinito
Horror do mal, do feio em todos os caminhos
E fala-nos do Amor e também da Política
Com o sangue desonrado em mãos sujas de tinta.
E sobretudo não te esqueças de ti mesmo,
Arrastando a fraqueza e a simplicidade
Em lugares onde há lutas e amores, a esmo,
De maneira tão triste e louca, na verdade!
Foi já bem castigada essa inocência grave?
Que achas? É duro o homem; e a mulher? E os choros,
Quem os bebeu? E que alma capaz de os contar
Consola isso a que podes chamar tuas dores?
Ah, os outros, ah, tu! Crendo em vãos lisonjeios,
Tu que sonhavas (e era também demasiado)
Com uma qualquer morte suave e ligeira!
Ah, tu, que espécie de anjo sempre amedrontado!
Mas que intenções, que planos? Terás energia
Ou o choro destemperou esse teu coração?
A julgar pela casca, é uma árvore macia
E os teus ares não parecem de vencedor, não.
Tão desastrado ainda! e com a agravante inútil
De seres cada vez mais um sonolento idílico
A fitar pla janela o céu sempre tão estúpido
Sob o astuto olhar do diabo do meio-dia.
Sempre o mesmo na tua extrema decadência!
Ah! — Mas no teu lugar, e assumindo as culpas,
Um ser sensato quer impor outra cadência
Com o risco de alarmar um pouco os transeuntes.
Não terás, vasculhando os recantos da alma,
Um vício pra mostrar, qual sabre à luz do dia,
Algum vício risonho, descarado, que arda
E vibre, dardejante, sob o céu carmim?
Um ou mais? Se os tiveres, será melhor! E parte
Prà guerra e briga a torto e a direito, sem
Escolher ninguém e enverga a indolente máscara
Do ódio insaciado, mas farto também...
Não devemos ser tansos neste alegre mundo
Onde a felicidade não é saborosa
Se nela não vibrar algo perverso, imundo,
E quem não quer ser tanso tem de ser maldoso.
— Sabedoria humana, eu ligo a outras coisas
E, de entre esse passado de que descrevias
O tédio, em conselhos ainda mais penosos,
Só consigo lembrar-me, hoje, do mal que fiz.
Em todos os estranhos passos desta vida,
Dos lugares e dos tempos, ou também dos meus
«Azares», de mim, dos outros, da estrada seguida,
Sempre retive apenas a graça de Deus.
Se me sinto punido, é porque o devo ser.
O homem e a mulher não estão aqui em vão.
Mas espero que um dia possa conhecer
O perdão e a paz que aguardam os cristãos.
É bom não sermos tansos neste mundo efémero,
Mas pra que o não sejamos na eternidade,
O que é mais necessário que reine e governe
Nunca é a maldade, mas sim a bondade.
Paul Verlaine, in "Sabedoria"
A Tranquilidade do Assumir da Nossa Condição
Temos pelos nobres e para as pessoas de destaque um cíume estéril, ou um ódio impotente que não nos vinga de seu esplendor e elevação, e só faz acrescentar à nossa própria miséria o peso insuportável da felicidade alheia: que fazer contra uma doença de alma tão inveterada e contagiosa? Contentemo-nos com pouco e com menos ainda, se possível; saibam perder na ocasião; a receita é infalível, e concordo em experimentá-la: evito com isso ser empurrado na porta pela multidão de clientes ou cortesãos que a casa de um ministro despeja diversas vezes por dia; penar na sala de audiência, pedir tremendo ou balbuciando uma coisa justa; suportar a gravidade do ministro, o seu riso amargo, e o seu laconismo. Então não o odeio mais, e não o invejo mais; ele não me faz nenhuma súplica, eu não lhe faço nenhuma; somos iguais, a não ser no facto dele não estar tranquilo, e eu estar.
(...) Deve-se silenciar sobre os poderosos; há quase sempre adulação ao dizer bem deles; há perigo em dizer mal enquanto vivem, e cobardia quando já morreram.
Jean de La Bruyére, in "Os Caracteres"
(...) Deve-se silenciar sobre os poderosos; há quase sempre adulação ao dizer bem deles; há perigo em dizer mal enquanto vivem, e cobardia quando já morreram.
Jean de La Bruyére, in "Os Caracteres"
Provérbios
Nunca te arrependas do bem que fizeres
Acreditar em tudo é tolice, mas não acreditar em coisa alguma tolice é
Se a todos tiveres que agradar, a ti não podes contentar
A amizade que acaba não foi verdadeira
As bebidas fortes fazem os homens fracos
Os maus por si se destroem
A maldade é uma grande doença da alma
Ser mãe é padecer no paraíso
Mente bem quem de longe vem
A mentira só dura enquanto a verdade não chega
Às vezes são precisas muitas mentiras para sustentar uma
O medo é mau companheiro
Quem tem medo, morre cedo
Há só duas mulheres boas no mundo: uma que já morreu; outra, que ainda não nasceu
É fácil adivinhar o que virá a ser uma mulher na casa de seu marido, observando o que ela é na casa de seu pai
Homem alto, besta de pé
Homem catanho nem limpa o ranho
Homem pequeno, fole de veneno
Toda a família numerosa tem o seu anjo e o seu demónio
A maior virtude dos que falam é calar o que não devem dizer
A gratidão é a memória do coração
O amante tem todas as qualidades e defeitos que o marido não tem
Tudo a pouca vergonha ousa e faz
Quem não tem vergonha, todo o mundo é seu
Aonde não há virtude, não há honra
Em política chama-se traidor ao que não mudou de ideias na altura própria
A educação é tão precisa como pão para a boca
Acreditar em tudo é tolice, mas não acreditar em coisa alguma tolice é
Se a todos tiveres que agradar, a ti não podes contentar
A amizade que acaba não foi verdadeira
As bebidas fortes fazem os homens fracos
Os maus por si se destroem
A maldade é uma grande doença da alma
Ser mãe é padecer no paraíso
Mente bem quem de longe vem
A mentira só dura enquanto a verdade não chega
Às vezes são precisas muitas mentiras para sustentar uma
O medo é mau companheiro
Quem tem medo, morre cedo
Há só duas mulheres boas no mundo: uma que já morreu; outra, que ainda não nasceu
É fácil adivinhar o que virá a ser uma mulher na casa de seu marido, observando o que ela é na casa de seu pai
Homem alto, besta de pé
Homem catanho nem limpa o ranho
Homem pequeno, fole de veneno
Toda a família numerosa tem o seu anjo e o seu demónio
A maior virtude dos que falam é calar o que não devem dizer
A gratidão é a memória do coração
O amante tem todas as qualidades e defeitos que o marido não tem
Tudo a pouca vergonha ousa e faz
Quem não tem vergonha, todo o mundo é seu
Aonde não há virtude, não há honra
Em política chama-se traidor ao que não mudou de ideias na altura própria
A educação é tão precisa como pão para a boca
Adivinhas. A solução é igual para todas.
Tão amiga sou do trabalho,
que nem sobre camas de flores
ociosamente descanso,
sem ofendê-las as piso,
e sem feri-las as pico.
De um mar de belezas sou pirata,
madrugo para roubar
as pérolas da aurora,
e no meio dos campos
publicamente furto,
mas por ladra nenhum juiz
até agora me condenou.
Sem fogo nem alambique,
industriosa alquimista,
faço uma doce quinta-essência,
sou amiga da paz e do silêncio,
e para crédito da clemência
e não posso irar sem dano,
porque, quando me vingo,
morro.
________________
Fui branca de nação
e mais tarde mudei de cor,
fui roubada sem ser sentida
para enriquecer meu senhor.
_______________________
Um convento bem fechado,
que não tem sinos nem torres,
com muitas freiras dentro
e todas fazendo doces.
_____________________
Qual é o animal que voa
,
sem tripas nem coração,
que dá luzença aos mortos
e aos vivos consolação.
_____________________
que nem sobre camas de flores
ociosamente descanso,
sem ofendê-las as piso,
e sem feri-las as pico.
De um mar de belezas sou pirata,
madrugo para roubar
as pérolas da aurora,
e no meio dos campos
publicamente furto,
mas por ladra nenhum juiz
até agora me condenou.
Sem fogo nem alambique,
industriosa alquimista,
faço uma doce quinta-essência,
sou amiga da paz e do silêncio,
e para crédito da clemência
e não posso irar sem dano,
porque, quando me vingo,
morro.
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Fui branca de nação
e mais tarde mudei de cor,
fui roubada sem ser sentida
para enriquecer meu senhor.
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Um convento bem fechado,
que não tem sinos nem torres,
com muitas freiras dentro
e todas fazendo doces.
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Qual é o animal que voa
,
sem tripas nem coração,
que dá luzença aos mortos
e aos vivos consolação.
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quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Entrega Fora de Horas
Dia de prova na faculdade. Cem alunos na sala, professor chato, impaciente e louco para ir embora. Dez em ponto a prova termina, e quem não entregar até essa hora não entrega mais, diz o professor. Às 10 e 10, um aluno corre com a prova na mão até à mesa do professor, que arrumava as coisas para sair.
— Eu avisei que não aceitaria provas fora do horário! Esqueça!
O aluno, com um ar autoritário, perguntou:
— O senhor sabe com quem está a falar?
A resposta do professor tinha um certo sarcasmo.
— Não, não faço a menor ideia.
Empinando mais o nariz, tornou a repetir:
— Tem certeza disso?
— Absolutíssima!
O aluno levantou a imensa pilha de provas, enfiou a dele no meio, baralhou-as um pouco e disse:
— Agora, descubra!
— Eu avisei que não aceitaria provas fora do horário! Esqueça!
O aluno, com um ar autoritário, perguntou:
— O senhor sabe com quem está a falar?
A resposta do professor tinha um certo sarcasmo.
— Não, não faço a menor ideia.
Empinando mais o nariz, tornou a repetir:
— Tem certeza disso?
— Absolutíssima!
O aluno levantou a imensa pilha de provas, enfiou a dele no meio, baralhou-as um pouco e disse:
— Agora, descubra!
Sem Paciência
O pescador:
— Há três horas que o senhor está aí a observar-me. Porque é que não pega numa cana e não vem também pescar?
— Não tenho paciência.
— Há três horas que o senhor está aí a observar-me. Porque é que não pega numa cana e não vem também pescar?
— Não tenho paciência.
Nada de perguntas :)
Numa repartição pública, o homem pergunta ao porteiro se pode fumar. Responde o porteiro:
— O senhor não sabe ler?
— Então mas o que é?
— Não viu o letreiro, ali è entrada da porta? Não sabe que é proibido fumar aqui?
O homem olha para o chão e vê pontas de cigarros (por toda a parte).
— Não estou a perceber!... Então o chão está cheio de beatas...
— Essas são dos que não perguntam.
— O senhor não sabe ler?
— Então mas o que é?
— Não viu o letreiro, ali è entrada da porta? Não sabe que é proibido fumar aqui?
O homem olha para o chão e vê pontas de cigarros (por toda a parte).
— Não estou a perceber!... Então o chão está cheio de beatas...
— Essas são dos que não perguntam.
Adeus! Caro de Mais te Possuía
Adeus! caro de mais te possuía,
sabes a estimativa em que te trazem;
carta de teu valor dá-te franquia,
meus vínculos a ti já se desfazem.
Como reter-te sem consentimento
e onde mereço essa riqueza grada?
Falece a causa em mim de tal provento
e a patente que tenho é revogada.
Deste-me, sem saber do teu valor,
ou quanto a mim, a quem o deste, errando,
e a dávida que em base errada for
volta a casa, melhor se ponderando.
Tive-te assim qual sonho de embalar,
um rei no sono e nada ao acordar.
William Shakespeare, in "Sonetos
sabes a estimativa em que te trazem;
carta de teu valor dá-te franquia,
meus vínculos a ti já se desfazem.
Como reter-te sem consentimento
e onde mereço essa riqueza grada?
Falece a causa em mim de tal provento
e a patente que tenho é revogada.
Deste-me, sem saber do teu valor,
ou quanto a mim, a quem o deste, errando,
e a dávida que em base errada for
volta a casa, melhor se ponderando.
Tive-te assim qual sonho de embalar,
um rei no sono e nada ao acordar.
William Shakespeare, in "Sonetos
O Vil Metal
Timão: Ouro amarelo, fulgurante, ouro precioso! (...) Basta uma porção dele para fazer do preto, branco; do feio, belo; do errado, certo; do baixo, nobre; do velho, jovem; do cobarde, valente. Ó deuses!, por que isso? O que é isso, ó deuses? (...) [O ouro] arrasta os sacerdotes e os servos para longe do seu altar, arranca o travesseiro onde repousa a cabeça dos íntegros. Esse escravo dourado ata e desata vínculos sagrados; abençoa o amaldiçoado; torna adorável a lepra repugnante; nomeia ladrões e confere-lhes títulos, genuflexões e a aprovação na bancada dos senadores. É isso que faz a viúva anciã casar-se de novo (...). Venha, mineral execrável, prostituta vil da humanidade (...) eu o farei executar o que é próprio da sua natureza.
William Shakespeare, in "Timão de Atenas"
William Shakespeare, in "Timão de Atenas"
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
E esta?
No cinema:
— Estás bem sentada, minha querida?
— Estou, sim.
— Vês bem?
— Vejo sim.
— Não sentes nenhuma corrente de ar?
— Nada que se pareça com isso.
— Então troca de lugar comigo.
— Estás bem sentada, minha querida?
— Estou, sim.
— Vês bem?
— Vejo sim.
— Não sentes nenhuma corrente de ar?
— Nada que se pareça com isso.
— Então troca de lugar comigo.
Amar e Cantar ao Mesmo Tempo
No ensaio da ópera.
— Vamos lá: um pouco mais de paixão. Você nunca amou? — diz o encenador ao tenor.
— Com certeza que sim. Mas não cantava ao mesmo tempo.
— Vamos lá: um pouco mais de paixão. Você nunca amou? — diz o encenador ao tenor.
— Com certeza que sim. Mas não cantava ao mesmo tempo.
A Retribuição
Arthur Rubinstein não era nada moderado nas suas manifestações. O célebre pianista foi convidado para jantar e, em seguida, pediram-lhe que se sentasse ao piano. Toca alguns acordes, durante três minutos, e diz:
— Já está!
— É muito pouco, mestre — disse a dona da casa.
— Também não comi muito — responde o artista.
— Já está!
— É muito pouco, mestre — disse a dona da casa.
— Também não comi muito — responde o artista.
A Execução
No concerto.
— Que lhe parece a execução deste pianista?
— Execução, acho demais... Talvez uns cinco anos de cadeia...
— Que lhe parece a execução deste pianista?
— Execução, acho demais... Talvez uns cinco anos de cadeia...
Merece 2 vídeos. Esta obra de Liszt é fantástica. O pianista não fica atrás :)
Posso garantir que só tem mesmo 2 mãos... :))))))))
Cada Cabeça, Cada Sentença
A ideia de ninguém ter razão (haja ou não haja pão) é portuguesíssima. Sobre qualquer assunto, Portugal garante-nos sempre pelo menos dez milhões de razões, cada uma com a sua diferençazinha, cada uma com a sua insolenciazeca do "eu cá é que sei". Não há neste abençoado território um único sujeito, seja eu ou ele cego, surdo e mudo, que não reclame a sua inobjectivável subjectividade. Lá diz o raio do povo, por tratar-se da única coisa em que o povo todo está de acordo, «Cada cabeça, cada sentença». Basta fazer-se uma reunião ou um júri, um governo ou uma comissão, para assistir-se ao milagre da multiplicação das opiniões.
Miguel Esteves Cardoso, in 'A Causa das Coisas'
Miguel Esteves Cardoso, in 'A Causa das Coisas'
A Ignorância não Exclui a Firmeza de Opinião
Tendo estudado a sabedoria em livros traduzidos do grego, do chinês ou do sânscrito, tenho uma certa desvantagem em relação aos ignorantes que só aprenderam em jornais desportivos ou revistas de moda. Quando enfrento um assunto difícil cuja elucidação requer anos de reflexão, sinto-me intimidado com a consciência da minha insuficiência, que me trava os impulsos no momento em que eles, impelidos pelo propulsor da sua ignorãncia, estão seguros de ter encontrado, ainda antes de ter procurado. Como posso fazê-los compreender que tenho razão em não proclamar que a tenho, antes de dedicar tempo a demonstrar-lhes que estão errados? Não, eles não desistem. De resto, as minhas hesitações atraiçoam-me. A verdade é uma flecha que vai direita ao alvo. Os escrúpulos intelectuais são tremuras do espírito. Se visar mal, como posso atingir o alvo?
Apercebemo-nos de que a ignorância não exclui a firmeza de opinião. Existe até uma cumplicidade objectiva entre elas. Quanto menos sabem, mais ostentam, diz o profeta. A indigência intelectual tira partido do seu pretenso parentesco com a Verdade. Contudo, é preciso ser ingénuo para pensar que o saber liberta o espírito dessa lei de gravitação que faz com que todo o pensamento orbite em torno da Verdade. Quanto mais sabem, mais ostentam, diz também o profeta, desta vez nos dias ímpares. Ter razão é a pretensão mais universal e, provavelmente, a mais antiga.
Georges Picard, in "Pequeno Tratado para Uso Daqueles que Querem Ter Sempre Razão"
Apercebemo-nos de que a ignorância não exclui a firmeza de opinião. Existe até uma cumplicidade objectiva entre elas. Quanto menos sabem, mais ostentam, diz o profeta. A indigência intelectual tira partido do seu pretenso parentesco com a Verdade. Contudo, é preciso ser ingénuo para pensar que o saber liberta o espírito dessa lei de gravitação que faz com que todo o pensamento orbite em torno da Verdade. Quanto mais sabem, mais ostentam, diz também o profeta, desta vez nos dias ímpares. Ter razão é a pretensão mais universal e, provavelmente, a mais antiga.
Georges Picard, in "Pequeno Tratado para Uso Daqueles que Querem Ter Sempre Razão"
terça-feira, 31 de agosto de 2010
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Génio do Mal
Gostavas de tragar o universo inteiro,
Mulher impura e cruel! Teu peito carniceiro,
Para se exercitar no jogo singular,
Por dia um coração precisa devorar.
Os teus olhos, a arder, lembram as gambiarras
Das barracas de feira, e prendem como garras;
Usam com insolência os filtros infernais,
Levando a perdição às almas dos mortais.
Ó monstro surdo e cego, em maldades fecundo!
Engenho salutar, que exaure o sangue do mundo
Tu não sentes pudor? o pejo não te invade?
Nenhum espelho há que te mostre a verdade?
A grandeza do mal, com que tu folgas tanto.
Nunca, jamais, te fez recuar com espanto
Quando a Natura-mãe, com um fim ignorado,
— Ó mulher infernal, rainha do Pecado! —
Vai recorrer a ti para um génio formar?
Ó grandeza de lama! ó ignomínia sem par.
Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"
Mulher impura e cruel! Teu peito carniceiro,
Para se exercitar no jogo singular,
Por dia um coração precisa devorar.
Os teus olhos, a arder, lembram as gambiarras
Das barracas de feira, e prendem como garras;
Usam com insolência os filtros infernais,
Levando a perdição às almas dos mortais.
Ó monstro surdo e cego, em maldades fecundo!
Engenho salutar, que exaure o sangue do mundo
Tu não sentes pudor? o pejo não te invade?
Nenhum espelho há que te mostre a verdade?
A grandeza do mal, com que tu folgas tanto.
Nunca, jamais, te fez recuar com espanto
Quando a Natura-mãe, com um fim ignorado,
— Ó mulher infernal, rainha do Pecado! —
Vai recorrer a ti para um génio formar?
Ó grandeza de lama! ó ignomínia sem par.
Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"
A Mediocridade do Talento
Quem entre nós não tem talento? Mesmo aqueles que nada têm, têm talento até os políticos - até os jornalistas... Fique pois dito de uma vez para sempre: quem me disser que eu tenho talento, ofende-me; quem me disser que sou um homem de talento, aflige-me.
Renego o vosso talento; despejo-o com os jornais na latrina. Falo-vos claro; para mim o talento não é senão o grau sublime da mediocridade. O talento é aquela forma superior de inteligência que todos podem compreender, apreciar e amar. O talento é aquela mistura saborosa de facilidade, de espírito, de lugares-comuns afectados, de filiteísmo um tanto brilhante que agrada às senhoras, aos professores, aos advogados, aos mundanos, às famosas pessoas cultas, em suma, a todos os que estão meio por meio entre o céu e a terra, entre o paraíso e o inferno, a igual distância da animalidade profunda e do génio grande.
Giovanni Papini, in 'Um Homem Liquidado'
Renego o vosso talento; despejo-o com os jornais na latrina. Falo-vos claro; para mim o talento não é senão o grau sublime da mediocridade. O talento é aquela forma superior de inteligência que todos podem compreender, apreciar e amar. O talento é aquela mistura saborosa de facilidade, de espírito, de lugares-comuns afectados, de filiteísmo um tanto brilhante que agrada às senhoras, aos professores, aos advogados, aos mundanos, às famosas pessoas cultas, em suma, a todos os que estão meio por meio entre o céu e a terra, entre o paraíso e o inferno, a igual distância da animalidade profunda e do génio grande.
Giovanni Papini, in 'Um Homem Liquidado'
Material escolar com químicos nocivos
Testámos 18 canetas e marcadores. Detectámos substâncias prejudiciais para as vias respiratórias em dez. A ameaça é maior para crianças mais novas e que sofrem de doenças respiratórias crónicas.
As canetas de gel Itsmagical Crearte, Ruiri Blink Pen e Uniball Signun Sparkling acusaram valores elevados de solventes irritantes para as vias respiratórias, pele e olhos. O mesmo se aplica às canetas-cola decoravitas UHU Young Creativ.
A maioria das canetas de feltro emite valores baixos daquelas substâncias, mas a BIC Kids e a Stabilo Trio Frutti são excepção. As últimas, além de solventes incluem alergénios. A Ante Coloured e a Staedtler libertam químicos irritantes.
Os marcadores fluorescentes Stabillo Boss Mini e Staedtler Textsurfer acusaram acetona e as canetas coloridas Rurir, propanol. A exposição prolongada a estas substâncias pode resultar em sonolência e tonturas.
Estes produtos não representam risco imediato para a maioria das crianças, mas desconhecem-se os efeitos a longo prazo da exposição a várias fontes de poluentes. Os fabricantes devem seguir o princípio da precaução e dispensar este tipo de substâncias, mesmo sem obrigação legal.
O material didáctico não científico, como o testado, é abrangido pela directiva dos brinquedos, que não fixa limites para as substâncias que pesquisámos: impõe apenas a ausência de quantidade com risco para saúde. A lei deve ser mais específica e indicar valores máximos de emissão.
Os pais devem optar, por exemplo, por material sem perfume e não envernizado. As canetas de feltro à base de água são as mais indicadas. Os produtos mais ecológicos, além de garantirem maior bem-estar das crianças, têm menor impacto ambiental.
2010 © DECO PROTESTE
As canetas de gel Itsmagical Crearte, Ruiri Blink Pen e Uniball Signun Sparkling acusaram valores elevados de solventes irritantes para as vias respiratórias, pele e olhos. O mesmo se aplica às canetas-cola decoravitas UHU Young Creativ.
A maioria das canetas de feltro emite valores baixos daquelas substâncias, mas a BIC Kids e a Stabilo Trio Frutti são excepção. As últimas, além de solventes incluem alergénios. A Ante Coloured e a Staedtler libertam químicos irritantes.
Os marcadores fluorescentes Stabillo Boss Mini e Staedtler Textsurfer acusaram acetona e as canetas coloridas Rurir, propanol. A exposição prolongada a estas substâncias pode resultar em sonolência e tonturas.
Estes produtos não representam risco imediato para a maioria das crianças, mas desconhecem-se os efeitos a longo prazo da exposição a várias fontes de poluentes. Os fabricantes devem seguir o princípio da precaução e dispensar este tipo de substâncias, mesmo sem obrigação legal.
O material didáctico não científico, como o testado, é abrangido pela directiva dos brinquedos, que não fixa limites para as substâncias que pesquisámos: impõe apenas a ausência de quantidade com risco para saúde. A lei deve ser mais específica e indicar valores máximos de emissão.
Os pais devem optar, por exemplo, por material sem perfume e não envernizado. As canetas de feltro à base de água são as mais indicadas. Os produtos mais ecológicos, além de garantirem maior bem-estar das crianças, têm menor impacto ambiental.
2010 © DECO PROTESTE
domingo, 29 de agosto de 2010
"Balada para um louco." Piazzola. Sabiamente executada...
Eu estive lá. Não sei se bati palmas ou não. Sei que foi inesquecível e que não foi nada parecido com o que está aqui...
Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus
[braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade, in 'O Corpo'
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus
[braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade, in 'O Corpo'
Arte e Sensibilidade
1) Toda a arte se baseia na sensibilidade, e essencialmente na sensibilidade.
2) A sensibilidade é pessoal e intransmissível.
3) Para se transmitir a outrem o que sentimos, e é isso que na arte buscamos fazer, temos que decompor a sensação, rejeitando nela o que é puramente pessoal, aproveitando nela o que, sem deixar de ser individual, é todavia susceptível de generalidade, portanto, compreensível, não direi já pela inteligência, mas ao menos pela sensibilidade dos outros.
4) Este trabalho intelectual tem dois tempos: a) a intelectualização directa e instintiva da sensibilidade, pela qual ela se converte em transmissível (é isto que vulgarmente se chama "inspiração", quer dizer, o encontrar por instinto as frases e os ritmos que reduzam a sensação à frase intelectual (prim. versão: tirem da sensação o que não pode ser sensível aos outros e ao mesmo tempo, para compensar, reforçam o que lhes pode ser sensível); b) a reflexão crítica sobre essa intelectualização, que sujeita o produto artístico elaborado pela "inspiração" a um processo inteiramente objectivo — construção, ou ordem lógica, ou simplesmente conceito de escola ou corrente.
5) Não há arte intelectual, a não ser, é claro, a arte de raciocinar. Simplesmente, do trabalho de intelectualização, em cuja operação consiste a obra de arte como coisa, não só pensada, mas feita, resultam dois tipos de artista: a) o inspirado ou espontâneo, em quem o reflexo crítico é fraco ou nulo, o que não quer dizer nada quanto ao valor da obra; b) o reflexivo e crítico, que elabora, por necessidade orgânica, o já elaborado.
Dir-lhe-ei, e estou certo que concordará comigo, que nada há mais raro neste mundo que um artista espontâneo — isto é, um homem que intelectualiza a sua sensibilidade só o bastante para ela ser aceitável pela sensibilidade alheia; que não critica o que faz, que não submete o que faz a um conceito exterior de escola ou de moda, ou de "maneira", não de ser, mas de "dever ser".
Fernando Pessoa, in 'Carta a Miguel Torga, 1930'
2) A sensibilidade é pessoal e intransmissível.
3) Para se transmitir a outrem o que sentimos, e é isso que na arte buscamos fazer, temos que decompor a sensação, rejeitando nela o que é puramente pessoal, aproveitando nela o que, sem deixar de ser individual, é todavia susceptível de generalidade, portanto, compreensível, não direi já pela inteligência, mas ao menos pela sensibilidade dos outros.
4) Este trabalho intelectual tem dois tempos: a) a intelectualização directa e instintiva da sensibilidade, pela qual ela se converte em transmissível (é isto que vulgarmente se chama "inspiração", quer dizer, o encontrar por instinto as frases e os ritmos que reduzam a sensação à frase intelectual (prim. versão: tirem da sensação o que não pode ser sensível aos outros e ao mesmo tempo, para compensar, reforçam o que lhes pode ser sensível); b) a reflexão crítica sobre essa intelectualização, que sujeita o produto artístico elaborado pela "inspiração" a um processo inteiramente objectivo — construção, ou ordem lógica, ou simplesmente conceito de escola ou corrente.
5) Não há arte intelectual, a não ser, é claro, a arte de raciocinar. Simplesmente, do trabalho de intelectualização, em cuja operação consiste a obra de arte como coisa, não só pensada, mas feita, resultam dois tipos de artista: a) o inspirado ou espontâneo, em quem o reflexo crítico é fraco ou nulo, o que não quer dizer nada quanto ao valor da obra; b) o reflexivo e crítico, que elabora, por necessidade orgânica, o já elaborado.
Dir-lhe-ei, e estou certo que concordará comigo, que nada há mais raro neste mundo que um artista espontâneo — isto é, um homem que intelectualiza a sua sensibilidade só o bastante para ela ser aceitável pela sensibilidade alheia; que não critica o que faz, que não submete o que faz a um conceito exterior de escola ou de moda, ou de "maneira", não de ser, mas de "dever ser".
Fernando Pessoa, in 'Carta a Miguel Torga, 1930'
sábado, 28 de agosto de 2010
Para todas as idades
Leroy Anderson (1908-1975) foi um compositor de música orquestral. Em 1950, compôs "The Typewriter", uma pequena peça para máquina de escrever. Na verdade, aquele Sr. não está a escrever nada. Está, apenas, a emitir o som da máquina de escrever...
Já vi o guitarrista deste grupo dar-se ao luxo de improvisar uma bela balada... tem muita qualidade mesmo.
Se procurarem "John Petrucci" no Google, vão ficar a saber que é só um dos melhores guitarristas do mundo.
Ela Canta, Pobre Ceifeira
Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anônima viuvez,
Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.
Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões pra cantar que a vida.
Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente ‘stá pensando.
Derrama no meu coração a tua incerta voz ondeando!
Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência
Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro!
Tornai Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anônima viuvez,
Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.
Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões pra cantar que a vida.
Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente ‘stá pensando.
Derrama no meu coração a tua incerta voz ondeando!
Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência
Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro!
Tornai Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
O Planeta da Inexperiência
Primeiro título pensado para A Insustentável Leveza do Ser: «O Planeta da Inexperiência». A inexperiência como uma qualidade da condição humana. Nascemos uma vez por todas, nunca poderemos recomeçar uma outra vida com as experiências da vida anterior. Saímos da infância sem sabermos o que é a juventude, casamo-nos sem sabermos o que é ser casado, e mesmo quando entramos na velhice, não sabemos para onde vamos: os velhos são crianças inocentes da sua velhice. Neste sentido, a terra do homem é o planeta da inexperiência.
Milan Kundera, in "A Arte do Romance"
Milan Kundera, in "A Arte do Romance"
Porquê Camuflar as Nossas Convicções?
Desde que nos propomos emitir uma verdade de acordo com as nossas convicções damos logo a impressão de fazer retórica. Que espécie de prestidigitação vem a ser essa? Como é que nos nossos dias não poucas verdades, proferidas que sejam, por vezes, mesmo em tom patético, imediatamente ganham aspectos retóricos? Porquê é que na nossa época cada vez há mais necessidade, quando pretendemos dizer a verdade, de recorrer ao humor, à ironia, à sátira? Porquê adoçar a verdade como se se tratasse de uma pílula amarga? Porquê envolver as nossas convicções num misto de altiva indiferença, digamos, de desprezo para com o público? Numa palavra, porquê certo ar de pícara condescendência? Em nossa opinião, o homem de bem não tem de envergonhar-se das suas convicções, ainda mesmo que estas transpareçam sob a forma retórica, sobretudo se está certo delas.
Fiodor Dostoievski, in "Diário de um Escritor"
Fiodor Dostoievski, in "Diário de um Escritor"
Para quem acha que devo escolher melhor as pessoas com quem me relaciono, apresento-lhe aqui alguns dos meus relacionamentos
I Encontro da APSAX (Associação Portuguesa de Saxofonistas), 2008
Para os meninos e meninas do ex 4º ano está muito bem assim :)
Não posso esquecer-me dos alunos da Escola de Música da Associação da Banda Musical do Burgo Arouca. Brevemente, irão começar com as aulas. Espero que eles também tenham acesso a este blogue. Se não tiverem agora, farei com que tenham mais tarde. Beijos e abraços para todos eles. Até breve amigo/as.
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