domingo, 29 de agosto de 2010

Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.

E lastimava, ignorante, a falta.

Hoje não a lastimo.

Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.

E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus

[braços,

que rio e danço e invento exclamações alegres,

porque a ausência, essa ausência assimilada,

ninguém a rouba mais de mim.



Carlos Drummond de Andrade, in 'O Corpo'

1 comentário:

Marta disse...

...e este Drummond de Andrade, mais uma vez, a pôr o dedo onde doi mais. e sempre de uma forma tão bela que é impossível não lhe perdoar.