sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Ai...

Sabedoria I, III

Que dizes, viajante, de estações, países?

Colheste ao menos tédio, já que está maduro,

Tu, que vejo a fumar charutos infelizes,

Projectando uma sombra absurda contra o muro?



Também o olhar está morto desde as aventuras,

Tens sempre a mesma cara e teu luto é igual:

Como através dos mastros se vislumbra a lua,

Como o antigo mar sob o mais jovem sol,



Ou como um cemitério de túmulos recentes.

Mas fala-nos, vá lá, de histórias pressentidas,

Dessas desilusões choradas plas correntes,

Dos nojos como insípidos recém-nascidos.



Fala da luz de gás, das mulheres, do infinito

Horror do mal, do feio em todos os caminhos

E fala-nos do Amor e também da Política

Com o sangue desonrado em mãos sujas de tinta.



E sobretudo não te esqueças de ti mesmo,

Arrastando a fraqueza e a simplicidade

Em lugares onde há lutas e amores, a esmo,

De maneira tão triste e louca, na verdade!



Foi já bem castigada essa inocência grave?

Que achas? É duro o homem; e a mulher? E os choros,

Quem os bebeu? E que alma capaz de os contar

Consola isso a que podes chamar tuas dores?



Ah, os outros, ah, tu! Crendo em vãos lisonjeios,

Tu que sonhavas (e era também demasiado)

Com uma qualquer morte suave e ligeira!

Ah, tu, que espécie de anjo sempre amedrontado!



Mas que intenções, que planos? Terás energia

Ou o choro destemperou esse teu coração?

A julgar pela casca, é uma árvore macia

E os teus ares não parecem de vencedor, não.



Tão desastrado ainda! e com a agravante inútil

De seres cada vez mais um sonolento idílico

A fitar pla janela o céu sempre tão estúpido

Sob o astuto olhar do diabo do meio-dia.



Sempre o mesmo na tua extrema decadência!

Ah! — Mas no teu lugar, e assumindo as culpas,

Um ser sensato quer impor outra cadência

Com o risco de alarmar um pouco os transeuntes.



Não terás, vasculhando os recantos da alma,

Um vício pra mostrar, qual sabre à luz do dia,

Algum vício risonho, descarado, que arda

E vibre, dardejante, sob o céu carmim?



Um ou mais? Se os tiveres, será melhor! E parte

Prà guerra e briga a torto e a direito, sem

Escolher ninguém e enverga a indolente máscara

Do ódio insaciado, mas farto também...



Não devemos ser tansos neste alegre mundo

Onde a felicidade não é saborosa

Se nela não vibrar algo perverso, imundo,

E quem não quer ser tanso tem de ser maldoso.



— Sabedoria humana, eu ligo a outras coisas

E, de entre esse passado de que descrevias

O tédio, em conselhos ainda mais penosos,

Só consigo lembrar-me, hoje, do mal que fiz.



Em todos os estranhos passos desta vida,

Dos lugares e dos tempos, ou também dos meus

«Azares», de mim, dos outros, da estrada seguida,

Sempre retive apenas a graça de Deus.



Se me sinto punido, é porque o devo ser.

O homem e a mulher não estão aqui em vão.

Mas espero que um dia possa conhecer

O perdão e a paz que aguardam os cristãos.



É bom não sermos tansos neste mundo efémero,

Mas pra que o não sejamos na eternidade,

O que é mais necessário que reine e governe

Nunca é a maldade, mas sim a bondade.



Paul Verlaine, in "Sabedoria"

A Tranquilidade do Assumir da Nossa Condição

Temos pelos nobres e para as pessoas de destaque um cíume estéril, ou um ódio impotente que não nos vinga de seu esplendor e elevação, e só faz acrescentar à nossa própria miséria o peso insuportável da felicidade alheia: que fazer contra uma doença de alma tão inveterada e contagiosa? Contentemo-nos com pouco e com menos ainda, se possível; saibam perder na ocasião; a receita é infalível, e concordo em experimentá-la: evito com isso ser empurrado na porta pela multidão de clientes ou cortesãos que a casa de um ministro despeja diversas vezes por dia; penar na sala de audiência, pedir tremendo ou balbuciando uma coisa justa; suportar a gravidade do ministro, o seu riso amargo, e o seu laconismo. Então não o odeio mais, e não o invejo mais; ele não me faz nenhuma súplica, eu não lhe faço nenhuma; somos iguais, a não ser no facto dele não estar tranquilo, e eu estar.

(...) Deve-se silenciar sobre os poderosos; há quase sempre adulação ao dizer bem deles; há perigo em dizer mal enquanto vivem, e cobardia quando já morreram.



Jean de La Bruyére, in "Os Caracteres"

Dire Straits - Romeo and Juliet com sax

Um clássico

Nada a dizer

Gustavo Dudamel - Danzon n°2

Provérbios

Nunca te arrependas do bem que fizeres

Acreditar em tudo é tolice, mas não acreditar em coisa alguma tolice é

Se a todos tiveres que agradar, a ti não podes contentar

A amizade que acaba não foi verdadeira

As bebidas fortes fazem os homens fracos

Os maus por si se destroem

A maldade é uma grande doença da alma

Ser mãe é padecer no paraíso

Mente bem quem de longe vem

A mentira só dura enquanto a verdade não chega

Às vezes são precisas muitas mentiras para sustentar uma

O medo é mau companheiro

Quem tem medo, morre cedo

Há só duas mulheres boas no mundo: uma que já morreu; outra, que ainda não nasceu

É fácil adivinhar o que virá a ser uma mulher na casa de seu marido, observando o que ela é na casa de seu pai

Homem alto, besta de pé

Homem catanho nem limpa o ranho

Homem pequeno, fole de veneno

Toda a família numerosa tem o seu anjo e o seu demónio

A maior virtude dos que falam é calar o que não devem dizer

A gratidão é a memória do coração

O amante tem todas as qualidades e defeitos que o marido não tem

Tudo a pouca vergonha ousa e faz

Quem não tem vergonha, todo o mundo é seu

Aonde não há virtude, não há honra

Em política chama-se traidor ao que não mudou de ideias na altura própria

A educação é tão precisa como pão para a boca

Adivinhas. A solução é igual para todas.

Tão amiga sou do trabalho,


que nem sobre camas de flores

ociosamente descanso,

sem ofendê-las as piso,

e sem feri-las as pico.

De um mar de belezas sou pirata,

madrugo para roubar

as pérolas da aurora,

e no meio dos campos

publicamente furto,

mas por ladra nenhum juiz

até agora me condenou.

Sem fogo nem alambique,

industriosa alquimista,

faço uma doce quinta-essência,

sou amiga da paz e do silêncio,

e para crédito da clemência

e não posso irar sem dano,

porque, quando me vingo,

morro.
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Fui branca de nação

e mais tarde mudei de cor,

fui roubada sem ser sentida

para enriquecer meu senhor.
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Um convento bem fechado,

que não tem sinos nem torres,

com muitas freiras dentro

e todas fazendo doces.
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Qual é o animal que voa

,

sem tripas nem coração,

que dá luzença aos mortos

e aos vivos consolação.
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George Pehlivanian conducts Tchaikovsky: Capriccio Italiano - Parte 1

George Pehlivanian conducts Tchaikovsky: Capriccio Italiano - Parte 2

Uma bela sugestão da Princesa :)