segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Génio do Mal

Gostavas de tragar o universo inteiro,

Mulher impura e cruel! Teu peito carniceiro,

Para se exercitar no jogo singular,

Por dia um coração precisa devorar.

Os teus olhos, a arder, lembram as gambiarras

Das barracas de feira, e prendem como garras;

Usam com insolência os filtros infernais,

Levando a perdição às almas dos mortais.



Ó monstro surdo e cego, em maldades fecundo!

Engenho salutar, que exaure o sangue do mundo

Tu não sentes pudor? o pejo não te invade?

Nenhum espelho há que te mostre a verdade?

A grandeza do mal, com que tu folgas tanto.

Nunca, jamais, te fez recuar com espanto

Quando a Natura-mãe, com um fim ignorado,

— Ó mulher infernal, rainha do Pecado! —

Vai recorrer a ti para um génio formar?



Ó grandeza de lama! ó ignomínia sem par.



Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"

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